Rio de Janeiro, 28 de Fevereiro de 2020

Obra com referências ao HIV e à comunidade LGBT é retirada de exposição pela Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro

Deputados criticam a obra nas redes sociais e abrem notícia-crime por ‘vilipêndio ao sentimento religioso’

Foto: Reprodução/Instagram

A Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro censura a exposição coletiva em cartaz no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica em razão da obra ‘Todxs xs Santxs – Renomeado – #eunãosoudespesa’ do artista Órion Lalli [1]. A imagem continha a figura de uma santa com o seio nu e um pênis, entre dois homens nus se acariciando, com a frase ‘Deus acima de tudo, gozando acima de todos’ [2]. A polêmica se iniciou quando o deputado Márcio Gualberto (PSL) criticou a obra nas redes sociais, afirmando que era uma forma de zombar da fé cristã; ele e a deputada federal Christiane Tonietto (PSL) registraram uma notícia-crime na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância por ‘vilipêndio ao sentimento religioso’ [3]. A Secretaria afirma que tem compromisso com o respeito ‘à liberdade religiosa e a todas as crenças’, bem como ‘respeito à liberdade artística’, mas decide por censurar a mostra até a decisão judicial sobre a notícia-crime [4]. O secretário da pasta, Adolpho Konder, afirma que não se pode admitir algo ‘que promova a intolerância e ofensa ao sentimento religioso’ [5]. Segundo Lalli, sua obra não faz referência à uma santa cristã, o trabalho traz diferentes símbolos e busca abordar temas relacionados à comunidade LGBT e às pessoas soropositivas [6]. Ainda, o artista nega ter a intenção de ofender alguma fé ou alguém, afirma que a censura ao seu trabalho ‘mostra que a discussão está muito longe da razoabilidade’ e questiona: ‘Até quando vamos falar em sexo pautado no conservadorismo por um erro de construção mitológica?’ [7]. Lalli também protesta nas redes sociais através de uma foto em que há os dizeres ‘censura não’ [8]. Obras LGBT ou com conteúdo sexual já foram alvo de censura em outros momentos. Em 2019, Pinacoteca retirou obra com órgão sexual por ser ‘inadequada’ [9], o Museu dos Correios cancelou exposição com obras sobre sexualidade [10] e o Centro Cultural Banco do Nordeste retirou obra sobre casamento gay de exibição [11].

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