Nova Friburgo, 8 de Março de 2022

Prefeitura de Nova Friburgo censura obra em exposição do Dia Internacional da Mulher

O Município justifica que a ação busca respeitar o Estatuto da Criança e do Adolescente, no entanto, a artista ressalta que não 'não tem nada sensual ou impróprio'

Prefeitura de Nova Friburgo (RJ) censura obra com nu feminino, realizada pela artista Elis Pinto, na mostra ‘Vozes femininas’, organizada pela Secretaria de Cultura do município em homenagem ao Dia Internacional da Mulher [1]. A prefeitura justifica que a retirada das obras busca respeitar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), pois a nudez retratada não se ajusta ‘à natureza do próprio evento realizado em local de amplo acesso a crianças e adolescentes e que também oferecia atividades infantis’ [2]. Além disso, o município defende que a medida não pode ser considera censura e ressalta que não há impedimento para que a artista exiba novamente suas obras em outra oportunidade ‘com a devida indicação de faixa etária’ [3]. Elis Pinto afirma que foi instruída a retirar obras consideradas ‘ousadas’ da sua série ‘Trópicos — A Vênus do fim do mundo’ para a visita do prefeito Johnny Maycon, pastor da Igreja Evangelho Quadrangular e presidente do Conselho de Jovens Evangélicos de Nova Friburgo (COJENF) [4]. Ainda que contrariada, a artista retira as obras, afirma que a Secretaria de Cultura teve acesso previamente ao material, portanto, não havia nenhuma surpresa quanto ao conteúdo dos trabalhos, e ressalta que a série ‘não tem nada sensual ou impróprio, são alegorias surrealistas de corpos femininos flutuando no caos’ [5]. Elis Pinto ressalta que outro quadro em que está representada uma guerreira com corpo nu, que é ‘careca e um pouco andrógina, podendo ser vista como um homem’ não incomodou ninguém [6]. Presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais de Nova Friburgo repudia o ‘ato de censura’ que fere a ‘liberdade de expressão artística’ e requer um posicionamento do secretário da Cultura [7]. Deputados federais assinam carta de repúdio ao episódio e defendem que o argumento de ofensa ao ECA ‘não se justifica’, pois seria o mesmo que alegar que ‘crianças não pudessem visitar a magnífica obra de Michelangelo retratando David ou mesmo levantar os olhos para a cúpula da Capela Cistina’ [8]. Casos semelhantes de censura de obras contendo nudez aconteceram na Casa França-Brasil no Rio de Janeiro [9], no centro cultural do Banco da Amazônia [10], na Galeria Municipal de Balneário Camboriú [11], na Escola de Belas-Artes da UFMG [12] e na Pinacoteca de Porto Alegre [13].

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